Entrevista com Lilian Bomeny


  1. Em uma breve apresentação, fale me a respeito de sua carreira e o que levou você à decisão de trabalhar como artista plástica?

Desde menina eu gostava de desenhar, pintar porcelanas e fui sempre interessada em fazer coisas artísticas. Com o passar do tempo me interessei também pela literatura e entreguei me completamente aos estudos literários, evidentemente um caminho sólido para as artes plásticas. Sempre tive uma inclinação para a arte, até que finalmente resolvi fazer alguns cursos e descobri minha verdadeira paixão, quando decidida a fazer meus primeiros cursos de pintura em seda, senti me fascinada pelo toque do material e da relação entre cores, tintas e possibilidades múltiplas, setindo me realizada com o resultado do pincel no tecido.

  1. Observando o trabalho desenvolvido em sua trajetória e fazendo um paralelo entre o seu trabalho e de artistas brasileiras como Tarsila do Amaral, como você percebe uma linguagem comum na criação artística feminina, no Brasil?

Tenho em minha obra a mesma luz, a mesma pureza, as mesmas cores que Tarsila e outras artistas brasileiras que se mantiveram na brasilidade e através da expressão artística, criaram a identidade da arte brasileira.

Eu acho que as formas são suaves, o trabalho tem um lado acolhedor e características locais.

A arte brasileira tem forte relação com a luz, caracterizada de formas diferentes no nosso trabalho no Brasil. A criação artística brasileira, se alimenta de outras áreas e se inspira desde a poesia de Machado de Assis, até a arquitetura de Oscar Niemeyer, para culminar em trabalhos contemporâneos como o de Maria Bonomi.

Há o feminino em toda criação.

  1. O que você considera uma evolução nesses seus 25 anos de carreira artística?

Sinto que estou cada vez mais artista, tomo a cada momento consciência do meu papel, encaro medos, pesquiso, entrego me mais à minha expressão e deixo que minha arte flua, testando diversas mídias e materiais, que estarão cooperando para que o meu processo de criação aconteça de forma mais nítida para mim.

  1. Você prefere trabalhar suas obras com ou sem título e por qual razão?

O título para mim não tem a menor importância, visto que minha arte é para o público, este é que vê, que sente, o nome quem quiser, que dê.

  1. Como você vê a evolução da arte contemporânea nos últimos dez anos?

Sinto cada vez mais que a arte contemporânea é como um laboratório de sentimentos.

A arte atual tem um papel de expressão e sentimento, sem a reprodução de figuras. A arte deixou de retratar, para tratar. Lidar com temas de interesses atuais, tocando na relação do ser humano com a matéria. Estamos vivendo um laboratorio de expressões onde os artistas se dedicam a decodificar a relação do pensamento com a expressão.

  1. A maior parte de seu trabalho trata se de arte figurativa. O que levou você a optar e manter a arte figurativa em sua carreira?

Gosto de focar meu trabalho no ser humano, em especial na mulher, por serem figuras reais de sentimento, de beleza e as considero a maior criação do mundo. Porém sinto que tenho um toque forte de simbolismo no meu trabalho e atraves dele chegamos certamente ao não figurativo e até mesmo às vezes à abstração.

  1. Quais são os desafios da pintura, no universo da arte contemporânea?

É estar sempre voltada para o futuro.

  1. O que é essencial no desenvolvimento de carreira de um artista?

Persistência e muito amor ao seu trabalho. O desenvolvimento da carreira de um artista demanda muita dedicação, a vontade de ver o trabalho ser reconhecido e premiado por aquilo que você doou através do tempo.

  1. Em sua opinião, por onde passa o processo de reconhecimento da arte brasileira internacionalmente?

Não tenho a certeza, mas estamos longe de ser reconhecidos internacionalmente.

A imagem do país não é bem trabalhada. Os rótulos são complexos e inferiorizantes para a arte, portanto acho que o trabalho deve ser desenvolvido de forma incessantemente desbravadora. A arte no Brasil tem de ser constante e persistente.

  1. O que fez você escolher a cidade de Paris como cidade-chave de seu desenvolvimento de carreira internacional?

Não escolhi, fui escolhida. Acredito no ditado “quem espera sempre alcança”. Acredito no trabalho constante e através dele as evidências desse reconhecimento. Posso até dizer que acreditar no seu próprio trabalho ajuda ao artista a manter sua trajetória viva.

  1. O que apresentará em sua exposição em Paris no Centro Cultural Claustro Billettes em outubro de 2015?

Apresentarei esculturas, mulheres que retirei de minhas criações e pinturas, transformando-as em tridimensionais. Eu senti que deveria dar vida aos meus desenhos, minhas pinturas e com isso ganhar uma representação ainda maior daquilo que eu proponho. Sentia que na tela, alguns personagens demandavam uma representação mais forte de suas identidades. Foi num trabalho de pesquisa desenvolvido juntamente com meu curador, Ricardo Fernandes, que percebi que alguns desses personagens que me falavam mais forte, pediam me para traze-los para mais perto ainda da nossa linguagem visual. Daí surgiu o projeto das esculturas, o qual está me fascinando.

  1. Quais são as expectativas de desenvolvimento de sua carreira artística nos próximos anos?

Quando se consegue uma entrada em Paris através de uma exposição tão significativa, acredito que só tenho uma coisa a esperar: que esta porta se abra para o mundo. Portanto, creio que tais projetos abrirão portas para o reconhecimento de meu trabalho como artista brasileira no exterior, confirmando minha persistência e carreira internacional, ajudando também no reconhecimento da arte brasileira, da qual faço parte e acredito.

  1. Qual o conselho você dá a quem está começando no universo das artes?

Deixar fluir seu mundo interior, sua paciência, sua dedicação e seu amor, buscando desenvolvimento e especializacao naquilo que faz.